A indústria na Rio+20
Conferências internacionais, como a Rio+20, costumam ser palco para manifestações de todo tipo — inclusive as mais extremas. Muitas delas, por seu caráter irreverente, acabam ganhando holofotes. Entretanto, essa é umaoportunidade ímpar para uma discussão madura baseada em evidências e com foco no futuro.
É nesse contexto que a indústria brasileira está pronta a dar sua contribuição, participando do debate de forma transparente a partir de conceitos que vêm sendo amadurecidos, ainda que de modo heterogêneo, no âmbito dos seus setores produtivos ao longo dos últimos anos.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) pautou sua participação na conferência a partir de uma mobilização inédita de 16 associações industriais, que reúnem alguns dos segmentos mais representativos da economia brasileira.
Cada um deles produziu um documento sobre a sustentabilidade do seu setor sob a perspectiva de gargalos, conquistas e desafios. Com base nisso, chegaremos à Rio+20 com um documento unificado.
Embora o processo esteja em andamento, é possível antecipar alguns cenários: os avanços não são homogêneos já que os setores avançaram de forma bastante diversa entre si.
Outro aspecto relevante é o reconhecimento de todos os setores da Indústria brasileira sobre a relevância da sustentabilidade como fator preponderante para o sucesso do negócio.
Não se trata de lidar com a sustentabilidade como discurso, mas de tê-la no desenvolvimento de qualquer plano de negócios como base de sobrevivência para a competitividade no mercado nacional e internacional.
Entretanto, para que a sustentabilidade seja vista como um fator que impulsiona negócios, e não apenas como custo, é preciso que o Brasil avance em alguns aspectos. Um dos principais é a regulação.
Muitos setores ainda se ressentem de insegurança jurídica na questão ambiental, o que é um empecilho aos investimentos e mesmo à criação de cadeias produtivas articuladas, que são uma saída para setores que, em razão da própria natureza do seu negócio, são menos sustentáveis do que outros.
A partir dessa articulação entre cadeias é possível reduzir impactos negativos e tornar esses segmentos — vitais para a economia — mais competitivos.
Negócios sustentáveis são, portanto, melhores negócios. Por sua natureza de inovação, dão início a ciclos virtuosos:
* Criam oportunidades,
* Estimulam parcerias públicoprivadas (PPPs) de apoio à pesquisa,
* Geram os chamados empregos verdes (técnicos em reflorestamento, especialistas em equipamentos de energia limpa, só para citar alguns exemplos).
Empregos esses que, por sua vez, alavancam demandas por mais e melhor formação profissional, abrindo mercado de trabalho principalmente para os jovens.
Portanto, a Rio+20 deve ser um espaço de discussão para aprimorar propostas factíveis de como tornar a sustentabilidade um novo paradigma de desenvolvimento.
Deve ser um espaço para que nos comprometamos com meios que estimulem essas propostas, para que governos assegurem ambientes férteis e livres para os negócios sustentáveis, para que a sociedade civil ajude a formular mecanismos claros de acompanhamento e aprimoramento desses negócios.
Assim, todos poderemos fazer escolhas melhores e mais sustentáveis para nós, nossos filhos e nosso planeta.
Fonte: Jornal O Globo