Para indústria do plástico, prioridade é prática ambiental!

Um estudo inédito coordenado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) para a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), desenvolvido com a participação de representantes de toda a cadeia produtiva de plástico no Brasil, concluiu que o setor, para atender à exigência crescente dos consumidores quanto à preservação do ambiente, deverá priorizar a reciclagem e as práticas sustentáveis, agora e no futuro. O estudo recomenda, ainda, que o país invista no segmento de embalagens, para aumentar a participação do Brasil no mercado internacional de plásticos.

Ambas as sugestões se interligam, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), Merheg Cachum. “A indústria das embalagens plásticas tem grande preocupação ambiental”, diz o executivo. “Esse estudo contribui para a conscientização de toda a cadeia produtiva, que começa na indústria petroquímica e chega ao consumidor final”, explica.

“Os consumidores estão sensíveis aos produtos amigáveis ambientalmente”, observa Hélio Viveiros, que participou do estudo como consultor do CGEE. Para ele, os artefatos plásticos reciclados contribuem efetivamente para minimizar os impactos ambientais. “Além disso, esses itens possuem forte apelo de marketing dos produtores de resinas, dos transformadores, dos grandes grupos de supermercados e da cadeia varejista em geral”, diz, sobre o impacto da reciclagem na escolha dos produtos pelo consumidor.

O trabalho traça um panorama do setor no Brasil até 2022. As recomendações para a indústria estão reunidas na publicação Panorama Setorial Plásticos, da coleção Cadernos da Indústria da ABDI.

Repercussões
As recomendações do estudo já estão se transformando em resultados práticos. Com o objetivo de fortalecer as práticas sustentáveis na indústria, por exemplo, a Abiplast trabalha em conjunto com o Instituto Sócio-ambiental dos Plásticos (Plastivida). “O plástico verde, da Braskem, já é um caso concreto da importância dada a essas práticas”, cita Merheg Cachum

O plástico verde é o primeiro polietileno certificado mundialmente e fabricado a partir do etanol de cana-de-açúcar, com tecnologia desenvolvida pelo Centro de Tecnologia e Inovação da empresa, em que a empresa investiu US$ 5 milhões nos últimos 10 anos. A certificação, do laboratório Beta Analytic, um dos principais no mundo, atesta que o produto contém 100% de matéria-prima renovável. O polietileno é um dos plásticos mais utilizados em embalagens.

Os investimentos do setor nos próximos anos, incluída a expansão da indústria petroquímica, deverão somar mais de US$ 5 bilhões, o que pode gerar milhares de empregos diretos em diferentes regiões do país. O consumo de resinas termoplásticas, considerado um indicador de qualidade de vida, alcançou no Brasil a marca de 24 quilos por habitante ao ano, em 2006. Nos Estados Unidos, foram 110 quilos por habitante, enquanto a França registrou 60 quilos. Os artefatos plásticos estão cada vez mais disseminados no cotidiano dos brasileiros, presentes nas roupas, embalagens de alimentos, nos revestimenos de carros e eletrodomésticos, entre centenas de outros itens.

Ecologicamente Correto

Os plásticos reciclados apresentam vantagens econômicas para diferentes segmentos de mercado, incluindo utilidades domésticas, indústria têxtil e construção civil. “O consumidor prefere os reciclados por terem posicionamento ambiental e também pelo menor custo”, observa Viveiros.

Dados da Plastivida mostram que a quantidade de plástico reciclado no Brasil teve uma taxa de crescimento de 9,2 pontos percentuais ao ano no período de 2003 a 2007. Já o consumo de resinas termoplásticas aumentou 5% ao ano, de acordo com estatísticas da Abiplast. “A expectativa da indústria é que o consumo do plástico reciclado continue crescendo mais depressa que o consumo de resinas virgens nos próximos anos”, diz o consultor.

Além da reciclagem mecânica, existem as reciclagens química e energética. Na primeira, recuperam-se os componentes dos plásticos já utilizados, que são então usados novamente como matéria prima no setor. O uso do PET recuperado para produção de poliéster é um exemplo dessa rota tecnológica. Existe outro tipo de reciclagem, a energética, que recupera a energia térmica dos resíduos plásticos para a geração de energia elétrica (cada 1 kg de plásticos possui energia equivalente à contida em 1 kg de óleo combustível), por meio da queima em fornos. Cada 1 kg de plásticos possui energia equivalente à contida em 1 kg de óleo combustível.

O processo de reciclagem energética é utilizado com sucesso em países da Europa, como França, Suécia e Dinamarca, e no Japão, em equipamentos seguros para a saúde humana e para o ambiente. Tecnologia avançada permite o controle de emissão de gases e resíduos industriais.

O estudo recomenda ambos os tipos de reciclagem, que irão complementar a reciclagem mecânica largamente utilizada no país. O uso do PET recuperado para produção de poliéster é um exemplo dessa rota tecnológica. “As alternativas são viáveis e desejáveis para completar a matriz de recuperação dos resíduos de plásticos, com benefícios para o meio ambiente e para a economia nacional”, observa Viveiros.

Gargalos
O estudo que deu origem à publicação Panorama Setorial Plásticos aponta, ainda, problemas que devem ser suplantados pelo Brasil para aumentar sua participação e melhorar a competitividade no mercado global. Entre as deficiências brasileiras, merecem atenção a falta de articulação entre os atores (empresas, universidades, centros de tecnologia e governo), o excesso de burocracia estatal, a carga tributária - entre as mais altas do mundo, a falta de mão-de-obra especializada e os baixos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (P,D&I). “As questões estratégicas da atividade de inovação envolvem a articulação das necessidades do mercado, a capacitação tecnológica e a competência da empresa na administração estratégica”, explica Viveiros. As empresas de transformação de plásticos de sucesso, diz o consultor, se caracterizam por líderes empreendedores e profissionais chaves (produção, finanças e mercado) que primam por uma cultura empresarial com foco em competitividade.

Portanto, revela o estudo, pessoal capacitado em gestão empresarial, em nível técnico e técnico-científico, é essencial para que a cadeia petroquímica se torne equilibrada e competente no enfrentamento dos desafios tecnológicos e mercadológicos em seus diversos segmentos. De acordo com o estudo, “a insuficiente qualificação da mão-de-obra nacional é um obstáculo à busca de um maior grau de diferenciação na indústria de transformados plásticos”.

A solução é investir na formação de talentos nas áreas de conhecimento mais ligadas às profissões necessárias para os diferentes segmentos da cadeia petroquímica: química, engenharia de materiais, de mecânica e de produção. “O Brasil tem alto nível em alguns centros de excelência, que devem servir de multiplicadores para a disseminação dos conhecimentos científicos, tecnológicos e de gestão empresarial para outras empresas e regiões do país”, conclui Viveiros.


Metodologia
Para desenvolver o estudo, o CGEE envolveu representantes, empresários e especialistas do setor em um processo participativo. Todas as diretrizes foram discutidas e aprovadas pelo comitê gestor do estudo, formado, no setor privado, por representantes da Abiplast, da Plastivida, da Associação Brasileira de Embalagens Flexíveis (Abief), da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), do Instituto Nacional do Plástico (INP) e do Sindicato da Indústria de Resinas Plásticas (Siresp).

Pelo setor público participaram representantes da ABDI, do CGEE, da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Financiadora de Projetos (Finep), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), da Petrobras e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Fonte: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos