Empresa holandesa recicla implantes de metal retirados de corpos cremados
Com o aumento na longevidade da população e o progresso de tecnologias associadas à medicina, mais e mais pessoas estão recebendo implantes cirúrgicos antes de morrer. Também há cada vez mais pessoas sendo cremadas, o que resulta em um aumento na quantidade de metais caros presentes entre as cinzas após a cremação. Para onde vai tudo isso?
"Você diz às pessoas o que faz para viver e elas pensam: 'Que estranho!'", disse Ruud Verberne.
Verberne é co-fundador da OrthoMetals, uma empresa que recicla implantes de metal de corpos humanos cremados. Tudo, de pinos de aço a quadris de titânio e joelhos de cromo.
"Alguns metais podem ser separados (das cinzas) com o uso de imãs. O resto tem de ser feito manualmente".
Estranho - e, para alguns, até macabro -, mas esse filão da indústria de reciclagem está em crescimento.
"Sei da existência de cinco ou seis concorrentes, a maioria deles nos Estados Unidos", disse o empresário, cuja companhia tem sede na cidade holandesa de Zwolle. "Mas fomos os primeiros".
Verbenne trabalhou muitos anos fazendo reciclagem de alumínio. Em 1987, conheceu Jan Gabriels, um cirurgião ortopédico. O médico lhe perguntou o que acontecia aos implantes de metal que colocava nos pacientes após eles morrerem. Verbenne não fazia idéia, mas depois de algumas investigações, descobriu que os artefatos eram jogados fora. "Eles eram simplesmente enterrados", disse.
O valor de implantes recolhidos de um crematório é uma pequena porcentagem do seu valor antes da cirurgia, mas eles são feitos de metais de boa qualidade que vale a pena reciclar.
"A operação para reposição de um quadril pode custar cerca de US$ 8 mil", ele explicou. "Mas o valor do material usado é talvez, por kilo, cerca de US$ 16. E um kilo equivale a cinco quadris!"
Em 1997, Gabriels e Verberne fundaram a OrthoMetals. Hoje, 15 anos mais tarde, a empresa recicla anualmente mais de 250 toneladas de metal proveniente de crematórios. O material é usado para fabricar carros, aviões e até turbinas eólicas.
A companhia recolhe os implantes de metal gratuitamente. Existe um cuidado especial para assegurar que o produto é derretido e não simplesmente reutilizado.
Causa nobre
Após a dedução dos custos, entre 70 e 75% da renda é devolvida aos crematórios. A ideia é que o dinheiro seja empregado em projetos beneficentes.
"Na Grã-Bretanha por exemplo", ele disse. "Pedimos cartas das entidades que receberam dinheiro da organização com que trabalhamos no país e vemos que a quantia que transferimos foi destinada à caridade. É um tipo de sistema de controle que temos".
Henry Keizer administra um fundo beneficente batizado em memória de um holandês cremado em 1913 - Dr Vaillant.
Ele disse que o fundo ajudou crematórios holandeses a distribuir dinheiro recebido da OrthoMetals para auxiliar causas diversas, como pesquisas sobre o câncer ou a manutenção de bibliotecas escolares.
"Eu acho que a reciclagem de implantes e de articulações artificiais é uma ideia excelente", ele diz. "Agora nós vamos usá-los para bons propósitos, para fundos e para pessoas que fazem atividades sociais que são extremamente importantes."
Michael Donohue, diretor de uma casa funerária no Estado americano da Pensilvânia, encontrou a OrthoMetals por meio de uma busca no Google, quando a sua empresa construiu recentemente o seu forno crematório.
"Antes que nós realmente começássemos a operar, o nosso maior dilema era: o que vamos fazer com os restos de metal deixados no fim do processo?", diz Donohue.
Agora, os implantes cirúrgicos recuperados vão para a Holanda para serem reciclados.
Donohue diz que sua equipe é franca com os familiares dos mortos sobre isso. "Nós somos honestos com eles, e dizemos que qualquer dinheiro que nos é dado vai para organizações locais, e eles adoram saber que algo de seus entes queridos está sendo bem aproveitado."
Relativamente poucas pessoas são cremadas nos EUA, pelos padrões internacionais - a percentagem atualmente está em 40%, embora a tendência seja de alta e haja algumas grandes variações geográficas.
Números recentes mostram Havaí e Nevada perto de 70%, mas o Mississipi tem menos de 10% de cremações. Isto pode ser uma marca de status sócio-econômico, diz Verberne. As estatísticas tendem a mostrar as pessoas mais pobres preferindo enterros. Na Holanda, terra natal de Verberne, cerca de 57% dos corpos são cremados. A Grã-Bretanha é o maior cremador da Europa, com 73%. E desde que a Igreja Católica flexibilizou a sua oposição à cremação, a empresa cresceu em países como Itália e Espanha. No total, a OrthoMetals opera em 15 países.
Verberne tem algumas ideias sobre por que os índices de cremação estão crescendo em muitas partes do mundo. "Duas razões são espaço e custo", diz. Um enterro tradicional pode custar quatro vezes mais que uma cremação. E em relação ao espaço, uma pesquisa mostra que 750 enterros ocupam até um acre (cerca de 4 mil metros quadrados) de terra.
Verberne também identifica algumas mudanças culturais. "Tempos atrás, a família visitaria um túmulo para ver o papai ou a mamãe", diz. "Hoje, eles espalham as cinzas e estão livres. Eles não querem obrigações."
Verberne não tem implantes metálicos, mas ele aponta para a mulher de seu sócio, que está ajudando a separar pedaços de metal na usina de reciclagem.
"Ela tem duas próteses de titânio no quadril", ele diz. "E uma vez perguntaram a ela: 'Não é estranho que você saiba que, um dia, seus quadris vão passar por essa esteira'? Ela disse: 'Não, isso é só parte da vida. Você vai morrer, e eu sei que reutilizar metais é uma coisa muito boa, então não tem nenhum problema', e ela acrescentou: 'O quadril da minha mãe estava aqui também'."
Fonte: Espaço Ecológico no Ar
Palavras-chave: Reciclagem, Metais, Cremação
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