O lixo que vira energia e crédito de carbono

Aterro Bandeirantes, em São Paulo, foi fechado em 2007. Mas as 40 milhões de toneladas de lixo enterradas lá podem ser usadas para gerar energia.

Na superfície, uma paisagem bucólica, com grama verde, pequenos morros e algumas árvores de pequeno porte. Quem vê o campo, às margens da rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo, não imagina que debaixo do gramado estão enterradas mais de 40 milhões de toneladas de lixo, espalhadas pelos 140 hectares do Aterro Bandeirantes. O aterro, administrado pela empresa Loga, funcionou entre os anos de 1979 até 2007. Nesse período, recebia metade de todo o lixo produzido diariamente em São Paulo.

O destino final do lixo orgânico é ainda um grande problema no Brasil. Todos os dias, mais de 190 mil toneladas de lixo são levadas para aterros, ou pior, lixões, em todo o país. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) diz que os governos têm até 2014 para acabar com todos os lixões, uma tarefa nada fácil, já que pelo menos metade dos municípios do país ainda destina seus lixos para lixões.

O técnico da Loga Álvaro Mitsuo Seriguti, que trabalha na administração do aterro, diz que a grande diferença entre lixões e aterros é que os aterros tratam o lixo para evitar contaminação do lençol freático ou da atmosfera. Isso porque o lixo se decompõe, gerando o chorume, um líquido poluente, e gás, principalmente metano, que polui e é 20 vezes pior para o clima da Terra do que o gás carbônico. A preocupação com o metano é tanta que não se pode, por exemplo, plantar árvores de grande porte no terreno do aterro, pois as raízes atingiriam os resíduos e poderiam liberar o metano na atmosfera.

Para capturar esse gás, o aterro Bandeirantes tem 400 pontos de captura, que retiram o metano que se forma com a putrefação do lixo, debaixo da terra, e leva para a Usina Termelétrica Bandeirantes. A usina, administrada pela empresa Biogás, aproveita esse metano, transformando o gás do lixo em eletricidade: a usina tem capacidade de fornecer energia elétrica para até 300 mil pessoas.

A Biogás faz parte de um programa de crédito de carbono. Como o metano seria liberado na atmosfera caso a usina não existisse, poluindo o ar e contribuindo para o fenômeno do aquecimento global, a usina e a prefeitura recebem dinheiro por evitar essas emissões. O ganho é duplo: financeiro, para a cidade e para a empresa, e ambiental para a sociedade. Anderson Alves da Silva, coordenador da Biogás, diz que, sem a usina, 80% do metano do aterro simplesmente sairiam para a atmosfera. Com a usina, apenas 0,01% polui o ar. "Só nesta manhã, por exemplo, nós deixamos de emitir até o momento 300 toneladas de CO2 equivalente", disse.

Fonte: BRUNO CALIXTO/ EPOCA


Palavras-chave: Resíduos, Aterro, PNRS.

Você tem mais informações sobre o tema? Envie seu artigo para noticias@apoioambiental.com.br